terça-feira, 22 de agosto de 2017

Criptografia é para todos – e a história americana é prova disto


Criptografia é para todos – e a história americana é prova disto

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Por Seth Schoen e Jamie Lewis para EFF

https://actantes.org.br/criptografia-e-para-todos-e-a-historia-americana-e-prova-disto/
 
Ao longo deste ano, funcionários responsáveis pela aplicação da lei em todo o mundo têm exercido pressão em torno da ideia de que, sem uma backdoor mágica para acessar o conteúdo de qualquer comunicação criptografada por pessoas comuns, eles estarão totalmente incapacitados para cumprir seus deveres de investigar crimes e proteger a população. A EFF e muitos outras organizações têm contra-atacado – incluindo o lançamento com nossos parceiros de uma petição, a SaveCrypto, que esta semana chegou a 100.000 assinaturas, estimulando uma resposta do presidente Obama.
Isto acompanha a comprovação recente de que todas as evidências de que o governo está “no escuro” eram infundadas, além do repúdio a esta preocupação por parte de um grupo de ex-oficiais de segurança nacional. Tendo em vista os ataques continuados dos operadores da lei ao uso público de criptografia, achamos que é um bom momento para um rápido olhar sobre a longa tradição do uso de criptografia por alguns americanos comuns e outros não tão comuns.
Está claro que a maioria das pessoas sabe que a criptografia é uma ferramenta militar crítica. Em uma de suas histórias [pdf] sobre criptologia publicadas pela própria NSA, o governo divulga o que significa e expõe que muitos acreditam razoavelmente que a criptografia desempenhou um papel significativo na vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Contudo, as autoridades de aplicação da lei recentemente deixaram claro que acreditam que o governo evsomente o governo deve se beneficiar do uso rotineiro das tecnologias mais seguras de criptografia. Além disto, procuram atualmente restringir a utilização generalizada das tecnologias seguras de criptografia pelo público.
Mas a criptografia sempre foi muito mais do que uma mera ferramenta militar ou governamental. Funcionários do governo nunca foram os únicos a gastar tempo e recursos na utilização e no desenvolvimento de novas técnicas de criptografia. Na verdade, longe de ser algo empregado apenas por poderosos, a criptografia foi usada por civis, empresários e revolucionários – incluindo os Pais Fundadores dos Estados Unidos – por séculos.

Uma das primeiras obras criptografadas é o Manuscrito Voynich (ainda não decifrado), um códice ilustrado que foi carbono-datado do início do século 15. O primeiro livro sobre criptologia em língua inglesa de que se tem notícia foi publicado em 1641, intitulado Mercury, ou The Secret and Swift Messenger, por John Wilkins. No século XIX, o conhecimento das várias formas de ocultar o conteúdo de uma mensagem era generalizado – muitos cidadãos comuns usvam criptologia para tudo, de correspondências de negócios a cartas de amor.
Descrevemos em postagens anteriores como os Pais Fundadores eram grandes usuários de criptografia. Muitos americanos já ouviram falar dos códigos empregados por Paul Revere – as suas laternas com o código ”um se pela terra, dois se pelo mar” e a advertência divulgada durante sua cavalgada da meia-noite de que “the Regulars are coming out” [“Os ingleses estão chegando”], alertando a milícia colonial para a abordagem das forças britânicas antes das batalhas de Lexington e Concord. Mas os líderes do jovem país não se serviam apenas de códigos e sinais, mas também de cifras e outras técnicas para preservar a confidencialidade de suas comunicações caso suas expedições caíssem em mãos inimigas.
Como lembrado por uma peça de revisão da lei publicada durante as primeiras criptoguerras, “os métodos de comunicação secreta” foram amplamente utilizados na Inglaterra, nos séculos 17 e 18 e “do início da Revolução Americana em 1775 até a adoção da Constituição dos Estados Unidos, americanos usaram códigos, cifras e outros escritos secretos para fomentar, apoiar e levar a cabo a rebelião contra o governo britânico.” O artigo inclui numerosos exemplos de civis, empresários e revolucionários que utilizavam criptografia para proteger o conteúdo de suas comunicações. Ninguém questionava seu direito a fazê-lo, não importando o contexto ou a lógica por trás de seu uso da criptografia.
Um exemplo é o Congresso Continental [que agregou as treze colônias e declarou a independência americana em sua segunda reunião], que reconheceu a necessidade de sigilo e aprovou uma resolução que impunha o uso de cifras para todas as mensagens que não pudessem ser transmitidas com segurança. Muitos dos pais fundadores sobre cujas vidas crianças americanas aprendem na escola usaram criptografia para proteger suas comunicações pessoais:
James Madison, o autor da Carta de Direitos e quarto presidente do país, foi um grande usuário de comunicações cifradas – inúmeros exemplos de sua correspondência demonstravam isto. O texto de uma carta de Madison a Joseph Jones, membro de Virgína no Congresso Continental, de 2 de maio de 1782, estava quase totalmente criptografado. Em 27 de maio de 1789, Madison enviou uma carta parcialmente criptografada para Thomas Jefferson descrevendo seu plano para introduzir a Carta de Direitos.
Thomas Jefferson, principal autor da Declaração de Independência e terceiro presidente do país, é conhecido por ser um dos usuários mais prolíficos de métodos de comunicação secreta. Ele até inventou seu próprio sistema de cifragem – a “cifra de roda”, como chamada por Jefferson, ou “disco Jefferson”, como é comumente chamada agora. Ele também apresentou uma cifra especial para Meriwether Lewis para uso na Expedição Lewis e Clark.
Benjamin Franklin inventou cifras usadas pelo Congresso Continental e, em 1748, anos antes da Revolução Americana, escreveu trechos de um livro sobre criptografia publicado por George Fisher, The American Instructor
George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, lidava freqüentemente com assuntos relacionados à criptografia e à espionagem na condição de comandante do exército continental. Ele é conhecido por ter dado a seus oficiais de inteligência instruções detalhadas sobre métodos para manter o sigilo de mensagens e uso de decifragem para descobrir espiões britânicos.
John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos, usava uma cifra fornecida por James Lovell – membro do Comitê para Assuntos Externos do Congresso Continental e um dos primeiros defensores de sistemas de criptografia – para correspondência com sua esposa, Abigail Adams, enquanto viajava.
John Jay, o primeiro ministro-presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, usava cifras para toda correspondência diplomática feita enquanto fora dos Estados Unidos. O irmão de John Jay, Sir James Jay, inventou uma tinta invisível especial e enviou um suprimento de Londres para seu irmão e para o então General Washington.
A lista continua.
Os pais fundadores não usavam criptografia como oficiais do governo no poder. Eles eram revolucionários e ativistas. Usavam a criptografia como uma ferramenta para lutar por independência de um órgão repressivo e proteger sua correspondência da espionagem do governo britâncio. Está bem documentado que muitos deles usavam criptografia para proteger o sigilo das suas comunicações não só relacionadas ao trabalho durante a revolução, mas também de suas cartas pessoais ao longo de suas vidas.
Uma série de outras pessoas não ligadas ao governo também usavam livros de códigos e outras formas antigas de tecnologia criptográfica para proteger os seus negócios e comunicações pessoais – especialmente as comunicações enviadas por correio ou por telegrama – desde a fundação dos Estados Unidos. Antes de 1960, não há nenhuma evidência de que o governo federal tenha pensado em exercer seus poderes para limitar a utilização de tecnologia de criptografia por particulares.
Qualquer sugestão por funcionários do governo de que a criptografia é uma ferramenta que, até agora, esteve no escopo das competências exclusivas do governo é um equívoco que promove uma agenda anti-privacidade e anti-segurança. A criptografia é e tem sido desde sempre uma ferramenta para todos, pesquisada e implementada por pessoas de todas as esferas da vida para muitos propósitos, de esconder o conteúdo de cartas de amor a proteger negociações no mercado de ações, diplomacia ou ativismo político. Dadas as rotineiras brechas na segurança e a vigilância desenfreada do governo que enfrentamos hoje, garantir a privacidade e a segurança das nossas comunicações privadas é tão importante agora como sempre foi ou até mais.
(Imagem destacada: Declaração de Independência, John Trumbull)


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