sábado, 25 de novembro de 2017

Primeira escultora a explorar sexualidade no Brasil, Maria Martins é tema de documentário

Primeira escultora a explorar sexualidade no Brasil, Maria Martins é tema de documentário


  1. https://revistacult.uol.com.br/home/maria-martins-nao-esqueca-que-eu-venho-dos-tropicos/#


“Maria é um exemplo bem sucedido do que foi um processo de libertação, autorrealização e emancipação de uma mulher na primeira metade do século 20, é uma pré-feminista”. Assim o diretor e roteirista Francisco Martins define a escultora Maria Martins (1894-1973). Ao lado da produtora e co-diretora Elisa Gomes, ele é responsável pelo documentário Maria, não esqueça que eu venho dos trópicos, que chegou neste mês aos cinemas brasileiros.
“Não existia um debate de afirmação de gênero, como existe hoje. Quando ela se divorciou a mulher nem votava no Brasil”, diz o diretor. “Maria teve uma força impressionante porque conseguiu romper esses cercos de opressão praticamente sozinha, com seus próprios meios, e colocou-se de igual para igual com outros artistas homens.”
A qualidade e radicalidade de sua obra são motivos que a tornam a maior escultora brasileira da primeira metade do século 20, diz o crítico Paulo Herkenhof. Maria foi uma das primeiras artistas brasieleiras a experimentar o caminho da sexualidade nas artes plásticas.

Suas esculturas são pouco convencionais, há figuras antropomórficas com tentáculos, deformações, membros alongados, genitálias desproporcionais, corpos tentando se fundir.  Também são recorrentes as figuras de mitos, deuses e monstros das mitologias amazonenses e yorubás.
Elas são vistas por Herkenhoff como expressões da procura pela essência do desejo: “Ela aponta o vazio do qual somos feitos, a incompletude, a impossibilidade de nos completarmos e sempre tentarmos entender o mistério da sexualidade, da devoração mútua”, afirma o crítico durante o filme.
Essa busca pela essência erótica não pode ser separada da sua trajetória de vida, afirma a co-diretora e produtora Elisa Gomes. “Maria foi uma mulher que brigou pelo espaço dela porque era livre. O desejo que ela trabalha tem a ver não com o desejo relacionado ao sexo, mas como pulsão da vida. Ela vivia o desejo como essência.” O documentário caminha entre uma apresentação da sua biografia e de suas obras. A intenção foi apresentar Maria Martins a um público que, fora do meio especializado, a desconhece.
  • 'Prometheus II', 1948, bronze (Reprodução)
  • 'L’Impossible', 1940, bronze (Reprodução)
  • 'Sans écho' (Sem eco), 1945, bronze (Reprodução)
  • 'Prometheus I', 1949, bronze (Reprodução)
  • 'Tamba-tajá', 1945, bronze (Reprodução)
  • 'L’Huitième voile' [O oitavo véu], 1949, bronze polido (Reprodução)

As duas vidas de Maria
Na França, a artista aprendeu a modelar na madeira; no Japão, em terracota, mármore e cera perdida. Em 1939, em Bruxelas, passou a usar o bronze, principal matéria-prima adotada em suas obras posteriores. Casada com o embaixador Carlos Martins, estava acostumada a viajar o mundo, e ainda no início dos anos 1940 organizou suas primeiras exposições, montou um ateliê em Nova York e teve aulas com o escultor lituano Jacques Lipchitz.
Foi nessa época, inclusive, que conheceu Marcel Duchamp, com quem manteve um relacionamento amoroso e trocas artísticas. Maria Martins serviu, inclusive, de modelo para sua última obra, Étant donnés, e para a capa do catálogo Prière de toucher.
Apesar da vida em países estrangeiros, a artista nunca se esqueceu de onde veio, na opinião de Francisco Martins – daí o subtítulo do filme. “Desde 1922, havia essa proposta de descobrir o que seria uma cultura brasileira. Mas isso era feito dentro do estereótipo, no fundo de uma matriz colonizada europeia. Maria vai além e realmente registra essa exuberância de formas e de sexualidade num nível mais original, afirma o diretor Francisco Martins.
Quando retornou ao Brasil, na década de 1950, sua obra foi tratada com certa hostilidade pela crítica, que a considerava muito próxima do surrealismo e chegou a classificá-la como obscena. Em sua última individual, em 1956, no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, teve inclusive que publicar um texto defendendo a liberdade de expressão do artista.
“Maria era uma mulher esclarecida e ficaria escandalizada com o que está acontecendo hoje no Brasil, pois mesmo que suas obras em certo momento fossem chamadas de obscenas, não eram censuradas e havia o espaço para o debate”, afirma Elisa Gomes.
Maria Martins também tem obras expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York e de São Francisco; no Museu de Arte da Filadélfia, Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea da USP.


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