domingo, 9 de abril de 2017

"O Campo - Em busca da força secreta do universo" - livro de Lynne McTaggart




CAPÍTULO 7

Compartilhando sonhos 


NAS PROFUNDEZAS DAS FLORESTAS TROPICAIS DO AMAZONAS, OS índios Achuar e Huaorani estão reunidos para um ritual cotidiano. Todas as manhãs, cada membro da tribo desperta antes do amanhecer, e quando se reúnem naquela hora crepuscular, enquanto o mundo explode na luz, compartilham seus sonhos. Não se trata simplesmente de um passatempo interessante, uma oportunidade para contar histórias: para os índios Achuar e Huaorani, o sonho não pertence apenas à pessoa que sonha, mas ao grupo, e a pessoa que sonha é somente o instrumento do qual o sonho decidiu se apropriar para ter uma conversa com a tribo inteira. Eles encaram os sonhos como mapas para as horas em que estão despertos. E um prognosticador do que está por vir para todos. Nos sonhos, eles entram em contato com os ancestrais e com o resto do Universo. O sonho é a realidade. A vida desperta é a falsidade.1 Mais para o norte, um grupo de cientistas também descobriu que os sonhos não pertencem à pessoa que está sonhando, adormecida em uma sala à prova de som atrás de um anteparo eletromagnético, com eletrodos presos ao couro cabeludo. Pertencem a Sol Fieldstein, um aluno de doutorado do City College que se encontra em outra sala a vários metros de distância e está examinando um quadro intitulado Zapatistas, de Carlos Orozco Romero, um panorama de revolucionários mexicanos, seguidores de Emiliano Zapata, marchando com suas mulheres envoltas em xales sob as nuvens escuras de uma tempestade que se aproxima. As instruções de Sol são para que ele imponha a sua imagem à pessoa que está sonhando. Alguns momentos depois, o homem que está sonhando, o dr. William Erwin, psicanalista, é despertado. Ele disse que o sonho que estava tendo era uma coisa absurda, quase como uma colossal produção de Cecil B. DeMille. Não parava de ver a imagem de uma antiga civilização mexicana debaixo de um céu sombrio.2 A pessoa que sonha é o instrumento de um pensamento pedido emprestado, uma noção coletiva, presente nas vibrações microscópicas entre as pessoas que sonham. O estado de sonho é mais autêntico, pois mostra a conexão em grande destaque. O estado desperto de isolamento, com cada pessoa em um aposento separado, é o impostor, do ponto de vista dos índios do Amazonas. Uma das questões que surgiu nas pesquisas da PEAR foi a natureza do domínio do pensamento. Se éramos capazes de influenciar as máquinas, essa constatação conduzia a uma pergunta óbvia: onde residem, com exatidão, os nossos pensamentos? Onde está precisamente a mente humana? A suposição habitual na cultura ocidental é que ela está localizada no cérebro. Mas se isso for verdade, como os pensamentos e as intenções poderiam afetar outras pessoas? Será que o pensamento está "lá fora", em outro lugar? Ou existe de fato uma mente prolongada, um pensamento coletivo? Aquilo que pensamos ou sonhamos influencia alguma outra pessoa? Esse era o tipo de pergunta que preocupava William Braud. Ele havia lido a respeito de experiências como a da pintura mexicana, que foi uma das mais expressivas experiências sobre telepatia conduzidas por Charles Honorton, respeitado pesquisador da consciência que trabalha no Maimonides Medicai Center, no Brooklyn, Nova York. Para um behaviorista como Braud, a experiência de Honorton representava um aprendizado novo e radical. Braud era afável e atencioso, com uma postura delicada e deliberada, com a maior parte de seu rosto coberta por uma generosa barba. Começara a carreira como psicólogo tradicional, com interesse particular pela psicologia e pela bioquímica da memória e do aprendizado. Contudo, havia nele um traço errante, um fascínio pelo que William James, o fundador da psicologia nos Estados Unidos, havia denominado "corvos brancos". Braud gostava de anomalias, das coisas da vida que não se encaixavam na normalidade vigente, das suposições que poderiam ser invalidadas. 




Poucos anos depois de terminar seu doutorado, a década de 1960 diminuiu o forte domínio de Pavlov e Skinner sobre sua imaginação. Na época, Braud estivera dando aulas sobre a memória, a motivação e o aprendizado na Universidade de Houston. Passara a se interessar pelos trabalhos que mostravam uma extraordinária propriedade do cérebro humano. Os pioneiros do biofeedback e do relaxamento demonstraram que as pessoas podiam influenciar suas próprias reações musculares ou o batimento cardíaco simplesmente dirigindo a atenção para partes dele em sequência. O biofeedback exercia até mesmo efeitos mensuráveis sobre a atividade das ondas cerebrais, a pressão alta e a atividade elétrica da pele.3 Braud estivera brincando com suas experiências sobre a percepção extra-sensorial. Um de seus alunos que praticava hipnose concordou em participar de uma experiência em que Braud tentou transmitir seus pensamentos. Algumas incríveis transferências haviam ocorrido. O aluno, que fora hipnotizado e estava sentado em uma sala mais adiante no corredor, alheio às atividades de Braud, parecia ter uma ligação empática com ele. Braud havia picado sua mão e a colocado sobre a chama de uma vela, e o aluno sentiu dor e calor. Ele contemplara a imagem de um barco e o aluno mencionou um barco. Braud abriu a porta do laboratório deixando entrar a luz brilhante do Sol, o que o aluno também mencionou. Braud conseguira pôr em prática o seu lado da experiência em qualquer lugar - do outro lado do prédio ou a muitos quilômetros de seu aluno que permanecia na sala lacrada - obtendo os mesmos resultados.4 
Em 1971, quando tinha 29 anos, o caminho de Braud se cruzou com o de Edgar Mitchell, que acabara de voltar da missão Apollo 14. Mitchell decidira escrever um livro a respeito da natureza da consciência e na ocasião estava fazendo uma sondagem em busca de pesquisas de qualidade na área. Braud e um outro acadêmico em Houston eram as únicas pessoas envolvidas com um estudo confiável sobre a natureza da consciência. Era natural que ele e Mitchell viessem a se conhecer. Começaram a se reunir regularmente e a comparar observações sobre as pesquisas nessa área. Havia uma grande quantidade de pesquisas sobre telepatia, como as experiências de Joseph Rhine com as cartas, bastante bem-sucedidas, usadas por Mitchell no espaço cósmico. Mais convincentes ainda tinham sido as experiências do Maimonides Medicai Center no final da década de 1960, conduzidas em seu laboratório especial de pesquisas do sonho. Montague Ullman e Stanley Krippner haviam realizado inúmeras experiências, como a da pintura mexicana, para verificar se os pensamentos poderiam ser enviados e incorporados ao sonhos. O trabalho no Maimonides alcançara um êxito tão grande,5 que ao ser analisado por um estatístico da Universidade da Califórnia, especialista em pesquisas psíquicas, a série total apresentou uma incrível taxa de precisão de 84%. A probabilidade de isso acontecer por acaso era de 250 mil para um.6 Houvera até mesmo alguma evidência de que as pessoas podem sentir empaticamente a dor de outra. Um psicólogo de Berkeley chamado Charles Tart havia concebido uma experiência particularmente brutal, administrando choques elétricos a si mesmo para verificar se conseguiria "enviar" a sua dor e tê-la registrada por um receptor (uma outra pessoa), que estava ligado a máquinas que mediam os batimentos cardíacos, o volume do sangue e outras mudanças fisiológicas.7 Tart descobriu que seus receptores ficavam cientes da sua dor, porém não em um nível consciente. Qualquer empatia que possam ter sentido estava sendo registrada fisiologicamente por meio de um menor volume de sangue ou de uma palpitação mais acelerada, porém não de um modo consciente. Quando questionados, os participantes não tinham a menor ideia de que Tart estava recebendo os choques.8(...)


https://eduardolbm.files.wordpress.com/2014/10/o-campo-lynne-mctaggart.pdf

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