segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Simone Ishibashi: As mulheres na luta pelas ideias revolucionárias

 * via amigo Wilson L. Silva através do Facebook
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Brasil - Esquerda Diário - Na reta final para o Encontro de Mulheres e LGBT do Pão e Rosas entrevistamos Simone Ishibashi, socióloga e editora da revista Estratégia Internacional Brasil, e Flávia Ferreira, economista e editora do Esquerda Diário sobre a importância das mulheres no debate de ideias no movimento revolucionário.

ED: Qual é a importância das mulheres no desenvolvimento do marxismo revolucionário?
Simone Ishibashi: As mulheres sempre cumpriram um papel fundamental para a existência e o desenvolvimento do marxismo revolucionário. Por representar metade da humanidade e viverem sob uma situação de opressão, as mulheres sempre foram dedicadas combatentes à causa da emancipação de si mesmas e da classe trabalhadora. Muitas dedicaram-se à elaboração dos temas relacionados à questão das mulheres, como a alemã Clara Zetkin, cujos diálogos sobre isso com Lênin são célebres. Ajudaram a prover o movimento comunista internacional de estratégia e programa para responder a necessidade de acabar com sua condição de opressão, que somada à exploração capitalista sentida pelas trabalhadoras e mulheres pobres pesam como uma dupla cadeia. Teorizaram profundamente sobre a ligação da luta pela emancipação feminina com a luta pela tomada do poder pelo proletariado, demonstrando serem esses combates indissociáveis.
Além disso, houve mulheres intelectuais e dirigentes partidárias de imensa envergadura. Rosa Luxemburgo, por exemplo, deixou como legado uma série de reflexões sobre economia, as contradições do capitalismo, e elaborou sobre praticamente todos os principais problemas da revolução internacional. Para além de quaisquer equívocos que possa ter cometido nesse terreno, foi uma revolucionária imensa, cuja agudeza de percepção permitiu-lhe dar-se conta, antes mesmo que Lênin, da degeneração sem volta de Karl Kautsky e sua ala no interior do partido socialdemocrata alemão.
E há muitas outras, menos conhecidas, mas que possuem uma trajetória exemplar pela sua força revolucionária, como Pen Pi Lan, trotskista chinesa, que militou incansavelmente ao lado de seu companheiro Peng Shu-tsé. Enfrentaram todos os tipos de adversidades, correndo risco de vida, perseguição, e isolamento na China dos anos 1920, enquanto o stalinismo com sua orientação criminosa de que o PC chinês entrasse no partido nacionalista-burguês Kuomintag, auxiliava na derrota da revolução chinesa de 1925. O combate de Pen Pi Lan é uma inspiração ideológica extremamente valiosa. Algumas dessas trajetórias são retomadas no livro Lutadoras publicado pela Editora Iskra, no esforço de tornar vivos esses exemplos pouco difundidos. Todas elas foram exemplos de que as mulheres devem ser sujeitos da elaboração da estratégia e política global do movimento comunista revolucionário. 

ED: E hoje em meio à crise econômica, qual é a perspectiva para as mulheres?
Flávia Ferreira: A tendência é que essas estejam entre os setores que mais sofrerão com a crise econômica. Além da disparidade salarial que sempre existiu e que faz com que as mulheres ganhem apenas 76% dos salários pagos aos homens pelo mesmo trabalho, os dados do PNAD/IBGE mostram que com a crise a tendência posta é que a taxa de desemprego seja maior entre as mulheres em todas as regiões do Brasil. A desigualdade de oportunidades por conta do machismo, torna desigual a inserção das mulheres no mercado de trabalho até hoje. Em muitos lugares no país a falta de acesso a creches gratuitas em período integral e próxima aos lares é um impeditivo para mães trabalharem.
Com o aumento do custo de vida, maior dificuldade para encontrar emprego ao mesmo tempo em que dívidas se acumulam, muitas famílias, inclusive lideradas por mulheres, aumentam sua procurar por emprego e, consequentemente, por serviços como creches, escolas integrais e de qualidade que passam a ser cada vez mais fundamentais para que se tenham as condições para as mulheres, mães solteiras e jovens procurarem e se dedicarem a um emprego e aos estudos. Mas ao mesmo tempo, há precarização, ou mesmo inexistência, desses serviços, o que termina deixando as mulheres numa situação ainda pior. Há cortes nos gastos sociais, na educação, e toda essa política prejudica ainda mais as mulheres.
Por isso, é muito importante que as mulheres se organizem de maneira independente do governo e demais partidos da burguesia, e possam adotar uma perspectiva claramente anticapitalista, pois a resolução efetiva de suas demandas só poderá vir por essa via. Também é fundamental que as mulheres possam teorizar e elaborar sobre esses problemas de uma perspectiva marxista, desmascarando a demagogia de que com mulheres presidentes que não tocam nenhuma base do Estado capitalista, pelo contrário as mantém, se pode resolver nossas demandas.

ED: Qual a expectativa de vocês em relação ao Encontro de Mulheres e LGBT do Pão e Rosas?
Flávia Ferreira: Esse será um momento essencial para debatermos e nos organizarmos pelas nossas demandas. E também para refletirmos sobre o papel estratégico das mulheres na luta revolucionária, de modo que possamos avançar na perspectiva de responder aos grandes desafios que se anunciam, sendo sujeitos da construção de uma alternativa política independente.
Simone Ishibashi: Além de todas as companheiras trabalhadoras, jovens, e LGBTs será muito importante também a presença de Andrea D’Atri, autora do livro Pão e Rosas e fundadora dessa agrupação na Argentina, e de Myriam Bregman, candidata a vice-presidente pelo PTS na FIT que refletirão essa importante concretização da necessidade de colocar as mulheres como sujeito político dessa perspectiva anticapitalista. Creio que o debate de ideias que advirá disso será riquíssimo, e nos permitirá avançar muito em nossa organização e na luta de ideias que temos pela frente.

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