terça-feira, 27 de setembro de 2011

SOU (ANTI)CANDIDATO À COMISSÃO DA VERDADE

Celso Lungaretti


Aloysio Nunes Ferreira Filho participou da luta armada na ALN de Carlos Marighella, foi condenado com base na Lei da Segurança Nacional, amargou o exílio e só pôde voltar com a anistia de 1979.

Mesmo assim, fez coro à demagogia direitista da última campanha presidencial de José Serra, acusando Lula de haver montado "uma máquina mortífera" e repetindo chichês alarmistas como estes:
"Tem o PT com seu velho radicalismo, com as velhas idéias de amordaçar a imprensa (...), outra ponta dessa engrenagem é o sindicalismo comprado (...). Temos o Incra entregue ao MST, temos o desrespeito à lei de uma política externa que corteja os ditadores mais sanguinários da face da Terra. E é contra esse sistema de poder que nós vamos eleger o Serra e o Geraldo".
É cogitado para a função de relator da Comissão da Verdade.

E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já se candidatou a uma das sete vagas, assim como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Considero inadequadas tais postulações.

Aloysio, porque pende para a esquerda ou para a direita ao sabor dos ventos políticos.

Dirceu por ser alvo preferencial das campanhas de desqualificação da mídia -- vide a capa recente da revista Veja. Por que oferecer novos trunfos ao inimigo, que, é óbvio, torpedeará incessantemente a Comissão? Ele seria o homem errado no lugar errado.

FHC, por tudo que deixou de fazer, ao longo de dois mandatos, para que os torturadores respondessem por seus crimes. É um dos responsáveis por não se terem tomado providências efetivas na hora certa, de forma que as tentativas acabaram sendo tardias e, por isto mesmo, mais facilmente anuladas.

Quanto à CNBB, não tendo o catolicismo se apresentado unido contra o golpe e o terrorismo de estado, eu consideraria mais apropriada a inclusão de um representante do Tortura Nunca Mais -- até como tributo à figura exponencial da resistência ao arbítrio que foi d. Paulo Evaristo Arns.

De resto, eu também apresento minha (anti)candidatura.

Porque é preciso evidenciar sempre e a cada instante que existe um abismo entre a o sistema, a política oficial, a imprensa burguesa e o universo alternativo, trepidante, da internet, que vem sendo minha trincheira nos últimos anos.

Então, embora eu domine o tema em questão como poucos e tenha uma credibilidade virtual conquistada com muito trabalho, coerência e lutas vitoriosas, hoje estou reduzido à quase inexistência pela grande mídia e nunca sou cogitado para absolutamente nada em Brasília.

Mas, avalio que tenho uma importante contribuição a dar à Comissão. Daí pleitear um lugar nela, embora saiba que é uma hipótese das mais improváveis.

Assim como um sem-número de vezes pedi justificados direitos de resposta aos jornalões, mesmo ciente de que as boas práticas jornalísticas não seriam respeitadas.

Porque jamais devemos nos conformar com a privação de direitos; marcar posição é uma forma de resistirmos.

Há, claro, a ínfima possibilidade de que companheiros encampem tal bandeira e a tornem uma opção concreta -- para contarem, na Comissão, com um ex-preso político que jamais se vergará a conveniências nem vai descurar da missão de trazer à tona a verdade histórica sobre os  anos de chumbo, custe o que custar.

Nesta eventualidade remota -- afinal, não faço parte de nenhum esquema influente --, a anticandidatura poderá até virar candidatura.

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