quinta-feira, 14 de abril de 2011

NEGÓCIOS DA CHINA

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A presidente Dilma foi à China com 200 empresários a tiracolo. Chegou vestida de vermelho, como para dizer que também é comunista, mas lá não pega. O regime chinês, que está mais para um capitalismo de estado, mas conserva as bases do socialismo, deve saber discernir quem é quem.

     E sabem que Dilma e amigos estão lá apenas para negócios, para aproveitar o momento da abertura do mercado chinês – mesmo que uma abertura controlada.

     Nos meados do século XIX, os ingleses e norte-americanos transformaram a China em um país completamente degradado. Era o início da segunda Revolução Industrial e os irmãos de língua inglesa estavam explorando a Índia e a China. A Índia tinha sido invadida pela Inglaterra, transformando-se em possessão britânica, em colônia inglesa. O território invadido e “colonizado” pelos ingleses era bem maior que a Índia atual. Incluía, também, o atual Paquistão, Bangladesh e Mianmar, que era chamado de Birmânia. Foi uma “colonização” que durou quase um século – de 1858 a 1947.

     Mas os ingleses queriam mais, no século XIX. Queriam a China, que sempre tinha sido um país fechado, com a sua célebre Muralha que a separava do mundo exterior, construída depois que os chineses tinham conseguido expulsar os mongóis do seu território.

     Começaram a invadir a China pacificamente, através de negócios. Os ingleses compraram toneladas de produtos chineses, tais como porcelana, seda e chá. Compravam esses produtos, e outros, a preço muito barato e os revendiam pelo triplo do preço no mercado europeu. Eram os chamados “negócios da China”. Mas havia um problema: a China não comprava nada dos ingleses. Os chineses estavam contentes com a sua própria produção interna e não se interessavam por produtos do exterior. Apenas vendiam, não compravam.

     Naquela época, a Inglaterra tinha descoberto no plantio e venda do ópio – que é considerada uma das drogas mais viciantes do mundo – uma maneira rápida e eficiente de fazer muito dinheiro. As grandes plantações de papoula da Índia forneciam toneladas de ópio que eram exportadas livremente para os países europeus, para a própria Inglaterra e para os Estados Unidos.

     Calcula-se que entre 1831 e 1859 o consumo aumentou cerca de 2,4% ao ano. Em 1830, a exportação da droga foi de 40 toneladas, elevando-se para 127 toneladas em 1860. Mais de 34 toneladas foram reexportadas para os Estados Unidos. Era a droga da época. Havia casas de ópio em toda a Europa e Estados Unidos, onde os viciados compravam o produto e o fumavam em um cachimbo especial.

     E os ingleses, para furar a barreira imposta ao comércio pelo império chinês, passaram a exportar ópio para a população chinesa. Primeiro clandestinamente; depois que já tinham formado um grande público consumidor, venderam toneladas de ópio livremente. Muitas grandes fortunas foram feitas devido ao tráfico de ópio.

     Steven Sora, no seu livro “Sociedades Secretas da Elite da América – Dos Cavaleiros Templários À Sociedade Skull And Bones” (editora Madras, 2005), revela os nomes das famílias norte-americanas, inglesas, irlandesas e outras que enriqueceram com o tráfico de ópio. Em primeiro lugar cita os Jardine, Matheson e Sutherland – que eram escoceses e formaram a firma de comércio de ópio “Jardine and Matheson”, que publicava uma revista chamada “Opium Circulars”, informando sobre os mercados e preços da droga.

     Hugh Matheson, que era norte-americano e sobrinho de James Matheson, resolveu entrar no negócio e fez alianças com bancos importantes como os dos Schroeder e dos Baring. Seguiram-no os Mckay, Bingham, Girard, Astor... Mas Thomas Perkins ganhou de todos e foi, durante muito tempo, o maior traficante de ópio dos EUA. Depois dele, vieram os Cabot, Lowell, Endicott, Hooper, Higginson e Elias Derby, que foi considerado o primeiro milionário norte-americano e interessava-se, também, pelo tráfico de escravos.

     Mas não parou aí: a família Cushing, Joseph Russell, a família Sturgis, J. P. Morgan, Warren Delano Jr., avô de Franklin Delano Roosevelt, Abiel Abbot Low, o clã Forbes, os Winthrop, os Bowditch e tantos outros da mesma elite. Afinal, não se fica milionário apenas devido às bênçãos de Deus.

     Quando a China foi finalmente “invadida” pelo ópio traficado por ingleses e norte-americanos, através da Companhia da Índias Orientais, a droga ameaçava seriamente não só as finanças do país, como também a saúde dos soldados. A corrupção grassava. Para chamar a atenção do imperador, um ministro descreveu a situação da seguinte maneira:

     “Majestade, o preço da prata está caindo por causa do pagamento da droga. Em breve, vosso império estará falido. Quanto tempo ainda vamos permitir este jogo com o diabo? Logo não teremos mais moeda para pagar armas e munição. Pior ainda, não haverá soldados capazes de manejar uma arma porque estarão todos viciados.”

     Isso fez com que em 18 de março de 1839, o imperador lançasse um decreto, com um forte apelo à população. Através de um panfleto, advertiu do consumo de ópio. As firmas estrangeiras foram cercadas pelos militares, que em poucos dias apreenderam e queimaram, na cidade de Cantão, mais de 20 mil caixas da droga.

     Foi o principal pretexto para a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842), vencida pelo império britânico que obrigou a China a pagar uma pesada indenização, permitir o tráfico de ópio e entregar Hong-Kong, que ficou sob domínio britânico por 100 anos. Em 1856 a China infringiu o Tratado de Nanquim, o que propiciou a Segunda Guerra do Ópio, quando a Inglaterra, aliando-se com a França, invadiu a China.

     Ao final dessa segunda guerra, com a derrota da China, onze novos portos chineses foram abertos para o comércio com o Ocidente. Em 1900, o número de portos abertos ao comércio com o ocidente, chamados de "portos de tratado", chegava a mais de cinqüenta, sendo que todos os países europeus, assim como os Estados Unidos e o Japão, tinham concessões e privilégios comerciais.

     O império Chinês estava derrotado e o seu povo drogado.

     No século vinte, começou a guerra do povo chinês contra a dinastia Qing, que era aliada do Ocidente. Em 1911, o líder revolucionário Sun-Yat-Sen derrubou a dinastia Qing e fundou a República Chinesa em 1912. Mas o seu partido, o Kuomintang, dividiu-se em diversas facções, e somente se reorganizou quando, em 1927, Chiang-Kai-Shek assumiu o poder de forma ditatorial. Isso provocou uma guerrilha comunista, liderada por Mao-Tsé-Tung, que foi vitoriosa em 1949, ano em que foi fundada a República Popular da China e expulsos os últimos resquícios da influência ocidental.

     Mao-Tsé-Tung morreu em 1976 e alguns anos depois teve início uma lenta e gradual abertura do regime chinês. Atualmente, a economia da China é a que mais cresce no mundo e é um país que está disposto a fazer negócios com outros países em desenvolvimento. Como o Brasil.

     E Dilma e os seus 200 empresários foram à China. Dilma deve fazer alguns tratados com o presidente chinês e os empresários outros tantos tratados de compra e venda, porque os negócios da China continuam sendo negócios da China. Só não se sabe se vão tentar vender a marijuana brasileira.

     Quanto ao ópio, ainda existe, mas descobriu-se que novas drogas poderiam ser extraídas da semente da papoula, como a codeína, a morfina e a heroína. As duas primeiras são usadas contra a dor e a terceira – heroína – recebeu esse nome por ser usada por soldados, nas guerras, tornando-os “heróicos” e bravos. Tomou conta do mercado europeu e, principalmente, norte-americano. É a droga preferida deles, junto com a cocaína. Inclusive, o consumo junto com a cocaína, em pílulas chamadas de “speedballs” ou “moonrocks”, tem se generalizado.

     A heroína foi muito usada pelos soldados dos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã. E nas guerras posteriores. Calcula-se em mais de um milhão o número de pessoas dependentes de heroína naquele país. E não só soldados. Oficialmente, é uma droga ilícita. Oficialmente.

Fausto Brignol.

Um comentário:

  1. Belo texto! Me permita apenas uma descontração. A presidente e sua comitiva estão cumprindo somente mais um capítulo do folhetim de Brasília: "Sofrimento nunca mais, agora é só alegria!" e tudo é ficção.
    Um abraço!

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