quarta-feira, 30 de março de 2011

DEVERIAM SER PRESOS


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Deveriam ser presos. Se realmente estamos em uma democracia e um grupo de militares defende a ditadura e o golpe de 1964, deveriam ser presos. Nada mais lógico.

     Mas nada acontecerá com eles, porque o governo petista lhes deu tanto poder e tergiversou em relação à aplicação do Plano Nacional de Direitos Humanos – 3, que prevê (previa?) que os torturadores e assassinos militares fossem presos e julgados, que agora este governo encontra-se novamente nas mãos dos militares.

     Ainda não completamente. Eles ainda não tomaram o poder, mas o cercaram, foram se infiltrando aos poucos, pedindo isto, pedindo aquilo, e tudo lhes é dado.

     Por medo. Este é um governo medroso, que se tornou vil e sem personalidade, apoiado por partidos que se tornaram entreguistas – como o PT e o PMDB – e que nada mais querem a não ser usufruir do muito dinheiro a que tem acesso através dos ministérios e de outros meios, como a corrupção desenfreada.

     Tudo é dado aos militares. Participaram da invasão do Haiti, quando o povo daquele país ameaçou iniciar uma guerra de guerrilhas contra a fome e a miséria. Lá, foram novamente doutrinados pelos militares estadunidenses, principalmente quando aquele país tomou o poder de fato no Haiti.

     Pediram armamentos. Foram-lhes comprados trezentos tanques de guerra; estão sendo comprados aviões-caça e armas modernas; os efetivos do Exército, Marinha e Aeronáutica estão sendo refeitos de acordo com o modelo dos comandos norte-americanos.

     Foi-lhes entregue o comando do tráfego aéreo nacional. Colocaram como Ministro da Defesa um reacionário de extrema direita, que atua junto da presidente Dilma em todas as decisões. Convenceram o Lula a fazer um acordo militar com os Estados Unidos. Convenceram a Dilma a nada fazer contra os torturadores militares – justamente ela, que diz que foi torturada por eles – e perceberam que o poder é quase todo deles. Tudo o que eles disserem é lei; tudo o que quiserem é aceito.

     Agora, convencidos disso, lançam um manifesto – através dos três clubes militares – exaltando as virtudes do que eles apelidaram de “Revolução de 1964”.

     Diz o manifesto, assinado pelo general Renato César Tibau da Costa, pelo vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral e pelo tenente brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista.: “sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação de honra". "Os clubes militares (...) homenageiam, nesta data, os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira". Entre outras coisas.

     O que significa um manifesto como este, justamente quando o povo começa a acreditar que vive em uma democracia?

     Que as Forças Armadas prosseguem no seu processo de elitização; que o governo é apenas um apêndice, uma excrescência a ser tolerada, desde que se comporte bem e continue obedecendo as suas ordens; que os militares nada temem e que poderão tomar o poder novamente, se assim desejarem.

     São o governo dentro do governo; o poder dentro do poder. E o poder armado, belicista, que tudo controla e a todos influencia através da sua mídia manipulada e manipuladora.

     E isto graças ao PT de um Lulinha paz e amor, que aceitou as regras do jogo neoliberal e de uma Dilma amorfa, dominada por empresários e latifundiários, com medo de tudo. Principalmente, com medo de ser governo de verdade.

     Deveriam ser presos, mas qual a polícia que prende a polícia? Presos por conspiração ou por incentivar a subversão ou por defenderem a ditadura militar – ou por tudo isso junto. Mas este é um governo frouxo, submisso, demagogo e que tem muito medo dos militares.

     O mais curioso e que talvez não seja mera coincidência: logo após a visita do Obama ao Brasil... O que veio Obama fazer aqui, de verdade?

     Só para lembrar as novas gerações, o golpe de estado de 1º de abril somente aconteceu porque a IV Frota dos Estados Unidos estava em prontidão, nas costas brasileiras, esperando apenas um chamado, caso houvesse uma resistência armada mais forte do Presidente João Goulart. Mas Goulart fugiu para o Uruguai – diz o seu filho que justamente para evitar essa invasão dos Estados Unidos, que provocaria uma guerra civil e acabaria dividindo o território nacional.

     Por isso foi tão fácil aquele golpe armado. Um verdadeiro passeio. Depois, vieram as prisões e torturas. E os Atos Institucionais. E o fim do Congresso Nacional. E o fim dos direitos civis. E as perseguições sem fim.

     Até que, em 1985, para evitar maior desgaste da imagem dos militares combinaram com as elites civis a passagem pacífica para a democracia. Já tinham conseguido reconstruir o Brasil à sua maneira e agora que os civis continuassem o trabalho. Os seus civis. Os meios de comunicação já tinham sido todos comprados, formara-se uma intelectualidade passiva e que se organizassem novos partidos, desde que fossem aprovados por eles, os militares.

     Então, fizeram-se passeatas e showmícios para que parecesse aos olhos do mundo e aos olhos do nosso povo que ele, o povo, exigia a saída dos militares. Tudo muito articulado e planejado. Ou vocês acham que uma ditadura aceita passivamente a organização de passeatas e showmícios?

     Tinha que ser criada a lenda do fim do militarismo no Brasil, e a lenda foi criada. Depois, colocaram os presidentes que quiseram, a começar pelo Sarney.

     E hoje, depois que o governo petista conseguiu a façanha de liquidar com os movimentos populares, de transformar-se de herói em traidor, de mocinho em vilão, de bravo em covarde, os militares ficaram à vontade para lançarem manifestos elogiando a sua própria covardia naquele abril de 1964, a sua própria vilania contra o povo brasileiro e a sua própria traição à pátria.

Fausto Brignol.

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