quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O BRASIL MÍNIMO


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Esperam-se grandes manifestações nas ruas das principais cidades do país, depois da aprovação do salário mínimo de R$545,00 pela Câmara Federal. Os deputados seguiram ordens da presidente Dilma e do partido do governo, que ainda leva o nome de “Partido dos Trabalhadores”, para aprovar o mínimo salário para os que tem emprego com carteira assinada no Brasil.

     Os que protestaram e votaram contra as ordens do governo não são membros do partido do governo e não pertencem à “base aliada” - um nome muito usado para se referir aos partidos aliados do partido da presidente e que ajudaram a eleger Dilma Roussef em troca de ministérios, secretarias, cargos de confiança e outras prebendas. Enfim, foram comprados de todas as maneiras democráticas conhecidas.

     Assim, esses partidos que demonstraram a sua inconformidade e não votaram no salário mínimo imposto pela presidente, o fizeram como protesto por não estarem participando dos lucros da grande empresa conhecida como “governo”, no Brasil.

     Não? Não é assim? Não haverá grandes manifestações nas ruas do país? Em que ano estamos? 2011? Ato falho. Pensei que ainda estivéssemos no início dos anos ’60, quando os trabalhadores tinham vontade própria e sabiam reivindicar os seus direitos. Por isso – ou também por isso – deram o golpe no governo de Jango. Naquela época havia comícios. Hoje os comícios estão proibidos até em época de eleição.

     E os trabalhadores não saem às ruas, protestando. Nem sabem mais o que é isso. No máximo, os trabalhadores vão beber nas ruas e discutir sobre futebol. É tudo o que é permitido pelo estado democrático. Perderam a sua força vital. Estão atrelados a grandes sindicatos que, por sua vez, estão atrelados, indexados, de mãos dadas com o governo democraticamente repressor. E os grandes sindicatos dizem aos trabalhadores que não devem protestar; devem aceitar tudo de cabeça baixa e ainda agradecer por terem um salário, num país que tem quase 11 milhões de desempregados.

     No entanto e apesar disso, os partidos poderão mobilizar grandes massas... Também não?! Mas que coisa... Quer dizer que os partidos, mesmo os que se dizem trabalhistas, também perderam a sua força vital? E o PCB? Ah... Está em constante reunião e lançará um manifesto brevemente... Sei... O PC do B? Depois da guerrilha do Araguaia nada mais fez senão beijar os pés dos governantes - é isso? E agora beija os pés também dos latifundiários e ruralistas? O tempora, o mores!

     Então o Brasil virou o que? Será que nem os cortadores de cana se revoltam? Não? Porque estão escravizados? Porque são submissos demais? Porque perderam a coragem e a força, como os trabalhadores que tem carteira assinada? Mas são todos covardes neste país? Ou vendidos e corruptos? São?! Dio mio!

     Então é mesmo o que me disseram... Este é um país de sorridentes carnavalescos e carnavaliados e acanalhados, que tem medo até de sorrir errado... “Triste Bahia/Ó quão dessemelhante...” – como escreveu o Caetano.

     Mas deve, ao menos, haver uma juventude atuante, lutando contra esse estado de coisas, ansiosa por transformar este país... Também não?! A classe média está imersa em celulares e Ipads, pensando que o mundo é virtual? E os jovens do povo? Magnetizados pela televisão, hipnotizados pela propaganda do governo, dominados pela ânsia de alcançar um nível social em que possam consumir cada vez mais, como fazem os jovens burgueses? Ansiosos por carros, motos, dinheiro fácil no bolso, consumo e tráfico de drogas? Não dão a mínima para o trabalho?

     Ou se prostituem... Há tantas maneiras de prostituição... Seguem o exemplo dos políticos, entendo... Que são os primeiros que se vendem, os primeiros a dar o exemplo da prostituição legalizada...

     Mas ainda temos os índios, com certeza, os indígenas, os nativos, os verdadeiros donos desta terra! Morreram todos ou quase todos? Restam alguns em alguns lugares, desprezados, atirados em reservas e quando reagem contra a invasão das suas últimas terras são mortos?

     Mas o que resta do Brasil, então? Um governo vendido, um Congresso vendido, um povo vendido? Terras desmatadas e inundadas... O território sendo entregue aos bancos e às multinacionais...

     Não, não quero ir embora pra Pasárgada. Não sou amigo do Rei, nem gostaria de ser. Desconfio que o meu Brasil diluiu-se em samba. Um samba industrializado, sem breque ou paradinha. Um samba formalizado, apatetado, ladeira abaixo em direção ao lixão, em direção à vala comum dos zumbis cercados de moscas e de corvos.

Fausto Brignol.

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