quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

NO CORAÇÃO DA TERRA


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Não quero os robôs do futuro
nem a beleza artificial de paisagens fabricadas.

Não quero a parvoíce da próxima
imbecilizada geração
de pacíficos mutantes.

Não quero prazeres metálicos.

Não quero o morrer senil,
sincopado,
das folhas a cair sem a possibilidade
de tornar-se em húmus
ou preparar a futura explosão da seiva,
sem transmutar-se em nova vida.

Esse morrer não quero.

Quero, ainda, um pouco
da sóbria solidão da sombra
sábia de árvores centenárias
e ouvir a sua conversa com o vento e com a chuva,
e a placidez dos dias de sol,
quando nos sentimos ancorados
no coração da Terra,
e com ela oramos,
silenciosos e reverentes,
no único perfeito momento
entre os múltiplos momentos
da tão perfeita inacabada perfeição.

Quero espairecer, em tarde de total Primavera,
nas águas apressadas de riachos amigos,
que trazem notícias de lugares distantes,
feitos de sonhos e desafios
nos amores das flores silvestres
com esguias folhas efêmeras,
paixões desatinadas de nervosos cipós
ao enrodilhar-se em árvores esquivas e tortuosas,
verde naufragado
em outras cores e outros verdes,
na sôfrega e eterna volúpia da criação.

Quero as rochas
e o seu olhar de olhos luzidios e sinceros
e a palpitante carícia
da areia nos pés,
enquanto a tarde passa, quieta e febril,
entre o líquido marulho
e os feiticeiros rumores da margem
a prometer mistérios
no cantar dos pássaros.

Fausto Brignol.

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