sexta-feira, 30 de julho de 2010

ENCONTRO COM FORO

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Um ser cabeludo, deste tamanho assim, apareceu e disse: “Eu Sou Foro!”. E a sua voz tonitroante tonitroava, ameaçadora. Respondi: “Como vai, senhor Foro?”

      – “Como vai, não, ser impuro!” – trovejou o ser, deste tamanho assim, enquanto eriçava os cabelos, que eram muitos, e seguiu dizendo, a tonitroar: “Deves tremer ao me ouvir!”

      Tremi, para não fazer desfeita, enquanto dizia – “Mas eu estou tremendo, senhor Foro” – e mostrei minhas mãos vermelho-pálidas que fingiam oscilar como se tremessem de verdade, enquanto ele continuava a tonitroar.

      - “Eu Sou Foro, Foro, Foro, o Senhor das Verdades escritas e por escrever, o Superior Poder de todos os poderes, o Sereníssimo, o Muito Augusto, Mestre Secreto, Perfeito, Íntimo, Preboste e Juiz; Sou o Grande Eleito Soberano, Ilustre e Perfeito, domino sobre a Acha, o Machado e o Arco Real; sobre a Serpente, a Águia e o Pelicano; Sou o Grande Inspetor Geral de todos os Mestres dos Mestres, Sublime em Tolerância e Compreensão, o que ouve e pondera e a quem todos se curvam quando fala e decide os destinos miseráveis dos seres profanos – eis o que Sou!” – falou de um só fôlego, enquanto seus cabelos, que eram muitos, eriçavam-se no ápice de Sua Suprema Pessoa, deste tamanho assim, a olhar-me com severo olhar como a esperar a confirmação de minha pequena pessoa para as suas exclamativas palavras.

      Eu, para não parecer mal educado, disse: “Que bonito! quanta coisa o senhor é...”

      E ele voltou a falar, com a voz mais alta do que antes, como se desejasse me deixar surdo.

      – “Como, que bonito?! Não percebeste ainda que Eu Sou Foro, Foro, Foro, o senhor de todos, o determinador e o exterminador, céus e terras estão cheios de Minha Glória, bendito Eu Sou nas alturas e planuras de onde observo todos os fatos e me enfastio a julgar e a decidir. Quando bato o meu martelo, universos são feitos e desfeitos!...”

      – “Momento, seu Foro” – eu disse, para interromper a falastronice que já me atordoava – “Que martelo?” - e ele, um ser deste tamanho assim, com os cabelos a baloiçar como se fossem uma peruca solta, olhou para as suas grandes mãos vazias, olhou para os lados, olhou para mim, agora com um grande olhar perplexo, suplicante, e gritou, tonitroante: - “Meu martelo!... Onde está o meu martelo?!”

      E eu comecei a rir, a rir e a gargalhar sem parar, enquanto aquele ser, deste tamanho assim, foi diminuindo, diminuindo e, com a voz cada vez mais débil, dizia, quase a chorar – “Meu martelo...” – e foi sumindo, diluindo seu poder e sublimidade a cada gargalhada minha.

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