sexta-feira, 9 de abril de 2010

Poemas do Cancioneiro (Fernando Pessoa)

Apaisagem longínqua só existe
Para haver nela um silêncio em descida
P'ra o mistério, silêncio a que a hora assiste...

E, perto ou longe,grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde há vida...
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo...

Há no firmamento
Um frio lunar.
Um vento nevoento
Vem de ver o mar.

Quase maresia
A hora interroga,
E uma angústia fria
Indistinta voga.

Não sei o que faça,
Não sei o que penso,
O frio não passa
E o tédio é imenso.

Não tenho sentido,
Alma ou intenção...
'Stou no meu olvido...
Dorme, coração...

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