segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

HERANÇA DAS DISCUSSÕES SOBRE O NADA NA CIÊNCIA (clique aqui para ler o boletim do NJR-ECA/USP)

Leonardo Sioufi

A filosofia moderna coloca o problema do nada em termos de linguagem. O nada continua muito importante na filosofia. Mas o maior legado da discussão antiga sobre o nada está na ciência. Este legado não é nada desprezível. A Física, a Química e a Biologia estão assentadas sobre a teoria atômica e sobre o conceito de vácuo.

A velha busca por algo que permanece inalterado em meio às transformações continua nas modernas pesquisas científicas. Elas são chamadas de “leis de conservação”. Primeiramente o químico francês Antoine Lavoisier (1743 - 1794) concluiu que a massa total das substâncias, antes e depois das reações químicas, era a mesma. Ele enunciou a máxima "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Depois o físico inglês James Joule (1818 - 1889) enunciou a lei da conservação da energia. Além de massa e energia, há uma série de quantidades que se conservam em meio a transformações: momento linear, momento angular, carga elétrica, etc.

Quando alguma grandeza que deveria se conservar não se conserva, os físicos procuram sempre uma nova transformação. Por exemplo, se a energia total de um sistema varia, os físicos procuram alguma nova forma de energia. No caso das reações nucleares e dos sistemas contendo pares partícula-antipartícula, as leis da conservação da massa e da energia são violadas. A explicação é que energia pode transformar-se em matéria e vice-versa. Assim a própria matéria pode ser vista como uma forma de energia. As leis de conservação de massa e de energia podem ser substituídas por uma única lei de conservação de energia. Enfim, na ciência moderna, o nada continua sem o poder de criar ou de destruir.

Apesar das leis de conservação, de acordo com Física Moderna o universo teve uma origem, o Big Bang. De acordo com essa mesma Física, o Big Bang é a origem do próprio espaço e tempo. Não há um momento anterior ao Big Bang porque não havia tempo. Não há lugar antes do Big Bang porque não havia espaço. Sem espaço e nem tempo, as próprias leis da Física perdem o sentido. A mesma ciência que declara o Big Bang não pode compreendê-lo.

O universo veio do nada? Se sim, o nada seria como os mobilistas concebiam. O ser existia sem espaço e sem tempo? Os eleatas diriam que sim. Existe uma divindade que criou o universo a partir do nada? Muitos teólogos acreditam que sim. A ciência não tem respostas para estas perguntas. A metodologia científica não pode ser usada em uma situação sem espaço e sem tempo.

As questões sobre o nada continuam sem uma resposta definitiva. Mas refletir sobre o nada não é perda de tempo. Toda a nossa tecnologia é aplicação do conhecimento científico. Este conhecimento herdou muitas idéias surgidas justamente nas reflexões sobre o nada. “Filosofia sobre o nada” não é “filosofia por nada”.


*Leonardo Sioufi Fagundes dos Santos é especializado em Divulgação Científica pelo NJR-ECA-USP, doutor, mestre e bacharel em Física pelo IF-USP e especializado em Matemática Pura pelo IME-USP. Atualmente ele é professor de Física do Centro de Ensino Tecnológico de Minas Gerais (CEFET-MG), no campus de Timóteo.

FONTE : http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/catedra/

Um comentário:

  1. VOCÊ ESCOLHEU BEM NADIA QUERIDA...O ARTIGO É ÓTIMO...E COMEÇANDO A FICAR COMOVIDA COM ESSE NEGÓGIO DE RITOS DE PASSAGEM...BEIJOS...AMO VCS...

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