quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Poema
Os Enganos do Viver
REPETE A FRAGILIDADE DA VIDA E APONTA OS SEUS ENGANOS E OS SEUS INIMIGOS

Que outra verdade hav'rá senão pobreza
nesta vida tão frágil, leviana?
Os dois embustes são da vida humana,
no berço começando, honra e riqueza.
O tempo, que não volta nem tropeça,
em horas fugitivas só a engana;
em errado ansiar, sempre tirana,
Fortuna faz cansar sua fraqueza.
Vive morte calada e divertida
a própria vida; a saúde é guerra
por seu próprio alimento combatida.
Oh, quanto, distraído, o homem erra:
que em terra teme ver tombar a vida
e não vê que, ao viver, caiu por terra!

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética'
Tradução de José Bento

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