quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Entre o fractal e a pós-modernidade (clique aqui para ler mais)


La responsabilidad de una escritura designa
una libertad, pero esta libertad no tiene los
mismos límites en los diferentes momentos de
la historia. Al escritor no le está dado elegir
su escritura en una especie de arsenal
intemporal de formas literarias. Bajo la
presión de la Historia y de la Tradición se
establecen las posibles escrituras de un
escritor dado. (BARTHES, El grado cero de
la escritura, p.24)




A microficção na fronteira do fractal

Há poucas décadas que os críticos e estudiosos de diversas disciplinas
repararam na semelhança de interesses entre diferentes tipos de teorias e os discursos
literários. Essas observações criaram o espaço para uma visão inter- disciplinar que
cada vez está sendo mais aceita no campo da literatura. Encaixariam-se, por
exemplo, dentro dessa tendência, o vínculo que Roland Barthes traçou entre
conceitos do Taoísmo e algumas características das formas narrativas e poéticas,
assim como também o conceito de rizoma extraído da botânica e aplicado ao modelo epistemológico das ciências sociais analisado por Deleuze e Guattari. Por outro lado,
temos práticas mais recentes, e talvez menos abrangentes, como a do trabalho do
crítico Franco Moretti da Universidade de Stanford (A Literatura vista de longe
(2008)) que utiliza ferramentas gráficas de análise matemática e estatística, e até conceitos da biologia evolutiva, para explicar mudanças na evolução das estruturas
narrativas do romance. Podemos também incluir nessa breve lista as contribuições à
análise de narrativas pós-modernistas realizadas a partir da Teoria do caos no
referente ao conceito de não-linearidade aplicado a esses textos, assim como o estudo
das metaficções através da geração de múltiplas significações como se se tratasse de
um sistema caótico que produz infinitas informações.
  
Pode-se dizer que a teoria do caos se originou como um movimento “underground” que rejeitou o
postulado fundamental da Ciência: o conceito laplaciano que afirma que, dado o modelo matemático correto e as condições iniciais de um sistema, sempre podemos conhecer de antemão a evolução do sistema com certo grau de precisão, ou seja, podemos predizer o futuro. (PEUSNER, 1994)


Gostaríamos de deter-nos rapidamente em algumas noções da Teoria do caos
por serem elas fundamentais para compreender a mudança de escala que se produz
em narrativas novas como a microficção. É importante entender que esta teoria, ou
ciência como a chamam alguns, tenta romper com o paradigma determinístico e
mecanicista da física newtoniana que procurava princípios regentes, universais e
eternos, do funcionamento da natureza e nos que a temporalidade era desprezada,
instalando uma nova visão do mundo baseada em elementos tais como os processos e
formas não-lineares e as simetrias recursivas nas quais a mesma forma geral se repete
através de diferentes longitudes de escala enquanto a forma está sendo
progressivamente aumentada ou diminuída. Esta é uma nova perspectiva em
concordância com a percepção de que a irreversibilidade tem um papel de
protagonismo na natureza e que ela se rege muitas vezes por processos espontâneos.
Mesmo quando esses sistemas não se comportam da mesma maneira duas vezes
seguidas, a teoria do caos nos demonstra que se observamos tais sistemas ao longo
do tempo, podemos perceber uma certa ordem que lhe é inerente, ou seja, há uma
ordem na aparente desordem do caos. Assim, o caótico já não é mais sinônimo de
processos aleatórios, mas de novos e mais profundos níveis de padrões de ordem
pois, “reservamos este termo para aqueles processos que são tão sensíveis às
condições iniciais, que a informação sobre um passado quase imediato não nos serve
para predizer seu futuro, por mais detalhada que ela seja” (PEUSNER, 1994:29).
Algumas destas noções têm sido aplicadas ao estudo das ciências sociais79 e também
da literatura.
Uma das noções principais que a Teoria do caos trabalha é a da idéia de
iteração ou repetição que também se encontra presente na geometria de fractais. Essa
geometria que contrasta com a clássica de base euclideana foi desenvolvida entre a
década de 60 e 70 pelo matemático de origem polaca Benoit Mandelbrot de forma
independente à teoria do caos, embora rapidamente tenha sido adotada por esta
última como uma linguagem matemática poderosa que ajudava a descrever numa
escala muito precisa padrões caóticos. De forma sintética, a geometria de fractais
trata de um aspecto da natureza que quase todo mundo tem notado por séculos e
milênios, mas que ninguém conseguiu descrever em termos formais matemáticos.

O trabalho de Ilya Prigogine (prêmio Nobel de química 1977) dentro da Teoria do caos tem
provocado um grande impacto nos estudos culturais. Pois a reconceitualização do vazio como um
espaço de criação tem tido profundas afinidades com a idéia pós-moderna de realidade construída: se
a realidade é construída, então ela pode ser também desconstruída. Nesta reconstituição fica claro que o mundo visto como uma experiência humana resulta da colaboração entre realidade e construção social. Dessa forma, a realidade está sujeita a uma constante revisão, desconstrução e reconstrução.(...)


PUC-RIO
LEIA MAIS EM : http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0610444_08_cap_06.pdf

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