sábado, 25 de julho de 2009

MANUEL BANDEIRA - POÉTICA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifesta-
ções de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no
dicionário o cunho vernáculo de
um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobetudo os barbarismos univer-
sais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de ex-
ceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
amante exemplar com cem mo-
delos de cartas e as diferentes ma-
neiras de agradar às mulheres, etc.
Quem antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clows de Shekespeare

-- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

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